data-filename="retriever" style="width: 100%;">Estamos assistindo a uma série contínua de barbáries. Racismo, LGBTfobia, xenofobia, intolerância generalizada, misoginia e feminicídios pipocam de norte a sul. As imagens repetidas na tela da TV, do assassinato a pauladas do congolês Moïse em um quiosque na beira da praia no Rio de Janeiro, são impactantes. Perturbador nesse episódio é saber que uma única pessoa pediu socorro. Em plena luz do dia, em lugar que muitos circulam, apenas uma ficou afetada e chamou a polícia (que não fez nada)? Não fizeram barulho? Ninguém mais viu a cena? Ou fizeram que não viram?
Em São Gonçalo, em outro caso brutal, um militar matou Durval a tiros enquanto chegava no condomínio, onde ambos moravam. O motivo? Desconfiou que ele poderia assaltá-lo. No país que "não existe racismo", a pele do "suspeito" é preta. Acreditem: a defesa anexou Certificado de Registro de Arma de Fogo ao processo para demonstrar que a arma que usou no crime era regularizada. Tiveram, inclusive, a audácia de entrar com um pedido de habeas corpus para que o militar responda em liberdade.
Em Manaus, um entregador foi agredido após cobrar o cliente que, irritado com a situação partiu para cima do motoboy. Adivinhem a cor da pele do agredido? Os três casos citados acima evidenciam o racismo mascarado que existe no país onde a maioria da população é negra. Enquanto, aqui nos trópicos, os negros alcançam melhores condições de vida a passos de tartaruga, o racismo corre como coelho. Negros ainda são minoria nas posições de liderança no mercado de trabalho, na política e tantos outros setores. Nada disso te afeta?
Mesmo com tantas evidências, existem os que aplaudem quando um presidente dá declarações do tipo "tem que todo mundo comprar fuzil" e reforça o racismo dizendo que "isso é fato raro no Brasil" e, portanto, não precisamos de políticas públicas para essa população.
A notícia de que, em Rondônia, o marido matou a esposa com um "mata leão" porque ela estava grávida e ele não queria assumir a paternidade é o retrato de que já ultrapassamos todos os limites da estupidez humana.
Aqui em Santa Maria, recentemente, recebi um pedido de socorro. Um professor universitário, assumidamente gay, é atacado verbalmente. O ofensor, também docente, é seu colega de curso. O homofóbico possui um extenso histórico de irregularidades e agressões na UFSM. A situação fere todas as normas de boa convivência e ética profissional. Se em ambiente que deveria ser no mínimo respeitoso, temos esse tipo de comportamento, imaginem nos espaços nos quais sequer chegam informações sobre cidadania. O sucedido foi registrado na ouvidoria da UFSM e na polícia civil.
Um país, onde travestis são marginalizadas e assassinadas, mendigos dormem nas calçadas, mulheres, homens e crianças pedem comidas nas sinaleiras e as pessoas apresentam mais afinidade pelos animais, é assustador.
Se nada disso tem abalado os brasileiros, podemos dizer que o nosso pior vírus é a violência naturalizada. Por favor, façamos alguma coisa. Não apenas nas redes sociais. Tenhamos a consciência de que a nossa conduta pode salvar vidas. Tomemos uma atitude quando nossa vizinha gritar pedindo socorro, quando percebermos que alguém está sendo agredido em espaços públicos ou mesmo quando assistirmos a uma provocação verbal no nosso local de trabalho. Vamos acreditar que temos chance de melhorar. Chega de tanta violência. Vamos nos afetar e agir.